quarta-feira, 2 de maio de 2012

O pior tipo de vizinho

Todo mundo reclama dos vizinhos, no Facebook, no twitter, na fila do pão. Tem o que não limpa o cocô do cachorro, o que rouba um pedaço da sua vaga na garagem, o que tumultua a reunião do condomínio. Mas o mais odiado é, disparado, o vizinho pagodeiro. Nunca falha, tem sempre alguém criticando os gostos musicais da vizinhança. E os pagodeiros, coitados, são sempre os mais lembrados, esses injustiçados. Não que eu tenha passado pro time, nada disso! Mas é preciso reparar essa injustiça com os pobres: vizinho pagodeiro não é, nem de longe, tão terrível quanto o verdadeiro e único pior vizinho do mundo (que, por acaso, é o meu): o cozinheiro de mão cheia.
Gente, essas criaturas são maléficas, vocês não tem noção! Como posso sobreviver a esta tortura? Como lidar com pessoas que assam pernil em plena quinta-feira à noite, enquanto tudo que você tem pra comer em casa é a sobra do almoço de hoje, que por sua vez foi a sobra do almoço de ontem?
Estas criaturas cruéis, sádicas e sem amor no coração não se importam em perfumar todo o condomínio com o cheiro das mais deliciosas comidas, a qualquer hora do dia ou da noite, matando geral de vontade de provar um pedacinho que, é óbvio, não será oferecido. Malditos!
Ontem uma alma maligna vizinha resolveu assar pão de queijo em plena tarde de feriado. E gente, eu disse assar? Não é que ela comprou o pacotinho da Pif Paf e botou no forno, como faria a creusa que voz fala. Ela comprou o polvilho, o ovo, o leite, o óleo e o queijo curado (mas muuuito queijo), fez a massa, melecou a mão de oleo e fez as bolotinhas que colocou no forno e assou, tal e qual sua avó faria. E o cheiro se espalhou por todo o quarteirão!!! Um cheiro maravilhoso, de infância, de casa de vó, de primos em volta da mesa, de tarde de inverno... Enquanto isso, na mesa de café da tarde creusística tínhamos pão, margarina (e não manteiga), café e leite (yes, this is sparta). Comofas????
Desconfio que esta pessoa seja a mesma que faz café to-dos-os-di-as às 7h da manhã. Justamente na hora que saio para levar ascriança e passo na porta da casa da pessoa. Daí vocês, leitores (sobrou alguém?) perguntarão por que cargas d'água eu não passo um café, tão simples, rápido e fácil. Mas eu passo. É que nunca, marrnunca que o cheiro do meu café fica sequer parecido com o da vizinha, aquela sádica.
E preciso mencionar os dias em que meu olfato identifica torta, carne assada, lasanha e até, pasme!, biscoitinho frito de polvilho?
Toda essa orgia gastronômica acontecendo nos arredores, aromas invadindo meu apartamento e cadê que recebo um topoér com o restinho da janta? Como sofro!
E vocês aí, reclamando do pagodeiro... Francamente! Bota um fone de ouvido, oras! Quero ver tampar o nariz enquanto a vizinhança resolve testar as receitas da Ana Maria Braga. Humpf!